“Condenem-me, não importa, a História me absolverá” (Fidel Castro)
“Todos nós seremos julgados pela História” (Dilma Rousseff)
Petra Costa faz um filme íntimo, ligando seu próprio passado ao passado do país. A obra é bem feita tecnicamente e consegue extrair de seu material fonte um espetáculo imagético e com grandes qualidades representativas.
A diretora soube bem apontar seu ponto de vista e o lugar social de onde fala (neta do fundador do Grupo Andrade Gutierrez), ou seja, numa posição social privilegiada dentro da burguesia capitalista. Isso posto, podemos nos adentrar a planos mais profundos que o documentário nos permite discutir.
O recorte temporal do filme vai desde a redemocratização até a eleição de Bolsonaro, perpassando a primeira eleição de Lula, as manifestações de junho de 2013 e o golpe de 2016. Os focos narrativos estão nos presidentes petistas, e os poucos espaços de crítica ao seus governos são superficiais e focados na questão da estrutura política e da institucionalidade.
É um posicionamento esperado, uma vez que cada vez mais o discurso liberal progressista nos moldes capitalistas está se tornando hegemônico na esquerda brasileira. O que mais chama atenção é que o documentário relativiza o período de governo do PT como um período realmente democrático na história do Brasil. A questão social do governo é negligenciada: pobres, negros, periféricos, LGBT+, mulheres, indígenas, quilombolas, sem terra, sem teto sempre estiveram na margem do jogo “democrático” brasileiro, inclusive nos governos petistas, em que a retaliação estatal conseguiu alcançar o seu auge.
Uma frase emblemática que pode sintetizar esse ponto de vista é a fala de Lula:
“Temos séculos de preconceitos, sabe? Séculos de dominação da casa grande, a senzala sempre foi muito mal tratada. Reverter tudo isso é uma coisa difícil e nem sempre dá certo, mas quando tem uma revolução metade morre em batalha, metade foge. Ai você pensa que pode fazer tudo, em muitos países se conseguiu fazer. Agora fazer como nós fizemos, com democracia, com liberdade de imprensa, com direito de greve, com direito de manifestação, com o congresso funcionando livremente…É muito mais difícil, mas é mais compensador. Porque…A gente vai aprendendo o que que é os valores da democracia” (Fala de Luiz Inácio Lula da Silva para o documentário Democracia em Vertigem).
Vemos aqui a romantização da democracia burguesa, que sempre busca o consenso para legitimar suas atrocidades, colocando para si uma carapaça extremamente poderosa no discurso atual: “democracia”. Os governos petistas são vistos pelo documentário enquanto tempos de prosperidade, de conquistas e, principalmente, de democracia.
A democracia nunca esteve em vertigem, ela sempre foi o que pretendia ser: “estreita, amputada, falsa, hipócrita, paraíso para os ricos, uma armadilha e um engano para os explorados, para os pobres”[1]. Com isso podemos perceber que os anos de governo petistas se propuseram a entrar nesse jogo “democrático”, e não acabar com ele. A opressão de classe continua e sempre continuará na dita “democracia”.
“Assim dizia Lenin: não se pode falar de “democracia pura” enquanto existirem classes diferentes, pode-se falar apenas de democracia de classe. Lenin recupera os ensinamentos de Marx e Engels sobre o Estado, que será sempre a expressão política da dominação de uma classe sobre as outras”. [2]
E quem mais sofre com essa dominação vocês já sabem!
Uma fala interessante sobre o documentário é a de Jean-Claude Bernardet (teórico do cinema brasileiro) em seu perfil no Facebook:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] Lênin. Capítulo da brochura “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky”: https://www.cienciasrevolucionarias.com/post/democracia-burguesa-e-democracia-prolet%C3%A1ria
[2] Lenin: Democracia Burguesa e Democracia Proletária: https://pcb.org.br/portal2/11138/lenin-democracia-burguesa-e-democracia-proletaria/
DICA:
[TV Boitempo] Léxico Marx #3 | DITADURA DO PROLETARIADO | Antonio Carlos Mazzeo: https://www.youtube.com/watch?v=rzwj5rlOklo